OS DETETIVES
Sonhei com detetives perdidos na cidade escura.
Ouvi seus gemidos, suas náuseas, a delicadeza
de suas fugas.
Sonhei com dois pintores que ainda não tinham
40 anos quando Colombo
descobriu a América.
(Um, clássico atemporal; o outro,
moderno sempre,
como a merda)
Sonhei com uma pegada luminosa,
a senda das serpentes
percorrida outra e outra vez
por detetives
absolutamente desesperados.
Sonhei com um caso difícil,
vi os corredores cheios de policiais,
vi os inquéritos que ninguém resolve,
os arquivos ignominiosos,
e logo vi o detetive
voltar ao lugar do crime
só e tranquilo
como nos piores pesadelos,
o vi sentar-se no chão e fumar
em um quarto com sangue seco
enquanto os ponteiros do relógio
viajavam acossados pela noite
interminável.
Roberto Bolaño
Tradução em português: Leonardo Morais